quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Crítica: Sambas que nos pegam de surpresa

"A competência de Thelmo Lins fez de Samba Sambá Sambô um dos melhores trabalhos fonográficos que surgiram no campo musical nestes últimos anos"

Por Rogério Salgado

Minas muito surpreende no que diz respeito a criações artísticas. O mais surpreendente, entretanto, é o inusitado. Dizem que o samba nasceu no Rio de Janeiro e lá estão os melhores sambistas brasileiros. Com o pensamento no saudoso Ataulfo ressalto, portanto, sem receios, que na cidade de Itabirito, interior mineiro, mora uma das maiores revelações do samba em nosso país. Trata-se de Pirulito da Vila, que não é da Vila Isabel e sim de outra Vila e que produz sambas tão geniais os quais, imagino que, se o Poeta da Vila, Noel Rosa, vivo estivesse, possivelmente com o Pirulito uma parceria teria.
Gravar um disco exclusivamente dedicado a um compositor não consagrado é sempre uma ousadia. É preciso coragem para acreditar no talento alheio. E foi o que o cantor e compositor Thelmo Lins, nome respeitado no cenário musical brasileiro, acaba de fazer. Com sua sensibilidade artística e humana, soube tão bem resgatar a genialidade de um sambista do interior mineiro, um verdadeiro cronista de sua época, reproduzindo em verdadeiras pérolas musicais, o cotidiano daquilo que observa. Seu samba me lembra os áureos tempos do samba de outrora, década de 20 e 30, sambas que nos pegam de surpresa. Como sempre, a competência de Thelmo Lins fez de “Samba sambá sambô” um dos melhores trabalhos fonográficos que surgiram no campo musical nestes últimos anos. Trabalho impecável, músicos profissionais, uma excelente produção.
O sambista Pirulito da Vila é natural de Itabirito (MG), cidade na qual iniciou sua carreira como ritmista e mestre de bateria e atualmente integra o grupo Cachaça com Arnica, para o qual compôs vários sambas.
“Samba sambá sambô” foi gravado no Estúdio Giffoni, tendo a concepção e escolha de repertório sob a responsabilidade de Thelmo Lins, direção musical e arranjos de Danilo Abreu, técnicos de gravação: Fernando César Cabrito e Fabrício Galvani, mixagem e masterização de Fabrício César Cabrito e preparação vocal de Regina Milagres.
Composto de doze músicas entre sambas, balada, maxixe, jazz “Bolero” e samba-funk, todas de autoria de Pirulito da Vila, com exceção da música que dá título ao Cd, uma parceria com Thelmo Lins, o trabalho vem com um time de peso do cenário musical mineiro: Danilo Abreu (piano), Milton Ramos (contrabaixo), André Limão Queiroz (bateria), Augusto Rennó (guitarra), Sérgio Rabello (violoncelo), Pirulito da Vila (percussão), Leonardo Barreto (sax soprano e sax tenor), Leonardo Brasilino (trombone), Juliana Perdigão (clarinete), e Regina Milagres, Mariana Brant e Silvia Maneira (vocais), além de uma participação vocal muito especial de Vander Lee, Isabella Michelini e do próprio Pirulito da Vila.
As músicas que compõem o Cd são: Falar de samba; Mercearia Paraopeba; Samba democrático (Samba do rico e do pobre); Toninho do Caju; Se liga, malandro; Tem alguém pior que eu; A alvorada do amor; Quem sabe assim; Bolero; Todos os santos; Terno do João e Samba Sambá Sambô.
Taí um bom presente de Natal para quem curte um trabalho musical de excelente qualidade.

Quem é Rogério Salgado

Natural de Campos dos Goytacazes/RJ, em 1980 mudou-se para Belo Horizonte/MG. Publicou em 1982, em edição independente, seu livro de estréia: Tontinho. Na década de 80, com Virgínia Reis e Wagner Torres, editou a revista Arte Quintal, uma das mais importantes revistas culturais que já circulou no país. Tem trabalhos publicados em jornais e revistas do Brasil e do exterior. É idealizador do projeto In/Sacando a Poesia. Desde 2005 realiza junto com Virgilene Araújo, o Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia. Também, com Virgilene Araújo, idealizou e concebeu o projeto Poesia na Praça Sete, em Belo Horizonte/MG, já em sua 4a edição, projeto esse realizado com os benefícios da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Em 2007 foi publicado por Virgilene Araújo, o livro Trilhas (Belô Poético), uma pesquisa e seleção de 70% da obra completa de Rogério Salgado. Em 36 anos de carreira poética publicou mais de 20 livros. Segundo o poeta Olegário Alfredo, Salgado é um poeta que não deixa a poesia descansar.

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